O padre cabinda Raúl Tati afirmou hoje que a situação vivida em Cabinda nos últimos dias, em termos de direitos humanos, resulta da falta de uma “solução do Governo de Angola” para aquela região.
R aúl Tati, igualmente activista, falava hoje à agência Lusa à margem de uma conferência sobre direitos humanos, em Luanda, comentando as recentes detenções de activistas naquele enclave, onde também reside, quando tentavam organizar manifestações de contestação.
Defendeu que o que está acontecer em Cabinda é “o recrudescimento da repressão contra todas aquelas vozes sonantes e dissidentes do Memorando do Namibe”, acordado em 2006, então colocando de parte a autonomia daquele enclave.
“O que está a acontecer é que praticamente todas essas pessoas estão a ser perseguidas e são aquelas que não aderiram ao Memorando de Entendimento e o Governo de Angola tenta fazer um ‘forcing’ para que os cabindas o aceitem como uma solução para o problema de Cabinda”, referiu Raúl Tati.
A conferência sobre “O Direito à Verdade e à Memória Colectiva como Direitos Humanos na Construção do Estado Democrático de Direito”, organizada pela Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD), decorre na capital angolana até quinta-feira.
Para o também professor universitário, a situação em Cabinda – um dos temas analisados neste fórum – decorre da necessidade de os serviços de segurança justificarem as elevadas verbas disponibilizadas pelo Governo para garantir a segurança naquela província, no norte de Angola.
“Cabinda é uma questão estratégica para Angola, então metem muito dinheiro por questões de segurança e eles de tempos em tempo têm que inventar ameaças e têm de inventar vítimas para mostrar trabalho e de alguma maneira garantir as suas promoções, isso é que está a acontecer em Cabinda”, explicou.
“Não posso entender que um jovem civil, que trabalha honestamente para a Chevron [petrolífera norte-americana que opera em Cabinda], se lhe possa imputar crimes de terrorismo, que está a preparar explosivos para fazer explodir o aeroporto, isso não cabe na cabeça de ninguém, só pode ser daquelas invenções macabras”, disse Raúl Tati em alusão à detenção do activista dos direitos humanos Marcos Mavungo.
Marcos Mavungo e o presidente do Conselho Provincial de Cabinda da Ordem de Advogados de Angola, Arão Tempo, estão detidos desde 14 de Março na sequência de uma tentativa de manifestação contra a má governação e violação dos direitos humanos na província.
No passado sábado, mais três pessoas foram detidas na sequência do anúncio da realização de uma manifestação – igualmente frustrada – para exigir a libertação de Marcos Mavungo e Arão Tempo.